A experiência analítica na língua materna

Na psicanálise, a linguagem tem uma função essencial. Jacques Lacan, psicanalista francês, dizia que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Ou seja, é através da linguagem que nos constituímos como sujeitos. A língua materna, então, vai muito além de ser apenas um meio de comunicação; ela é um ponto de acesso ao inconsciente. As palavras, ou melhor, os significantes, carregam em si sentidos que vão além do simples significado, muitas vezes tocando aspectos mais profundos da nossa subjetividade.

Quando falamos na nossa língua materna, expressamos emoções e sentimentos marcada pelo encontro com o Outro, que neste caso é a linguagem, a cultura. Agora, imagine alguém que está em processo migratório, afastado de sua língua e cultura de origem. Isso pode criar uma sensação de distanciamento. E essa perda da língua materna pode enfraquecer a nossa capacidade de nos localizar em nossa própria história.

A psicanálise é uma prática que implica revistar pontos enigmáticos dessa história; de como cada um foi marcado ao ingressar na linguagem. Aquele que se dispõe praticar a psicanálise, ao falar poderá vir a construir um saber sobre si, saber inconsciente. E essa experiência tem efeitos no sujeito e nos modos de se relacionar com o outro e o mundo.

Para os brasileiros vivendo no exterior, o atendimento psicanalítico online em português é uma grande oportunidade. Ele possibilita que se mantenha esse vínculo com a língua materna. Mesmo à distância, a psicanálise se mantém como um campo fértil, onde a palavra, na língua de origem, continua sendo o principal caminho para trabalhar as questões do inconsciente.

*** Daniella Pereira é psicanalista da Escola Letra Freudiana - RJ, com experiência clínica e interesse nas questões psíquicas envolvendo a adaptação cultural e as transformações emocionais. Com uma abordagem acolhedora, busca ajudar pessoas a lidarem com os desafios emocionais que surgem durante transições significativas, como a mudança para outro país.